4×4 & Cia – O SEU GUIA DE AVENTURAS/OUTUBRO DE 1996

VEJA/17 DE NOVEMBRO DE 1999
10 de janeiro de 2020
EXAME/17 DE SETEMBRO DE 2003
10 de janeiro de 2020

4×4 & Cia – O SEU GUIA DE AVENTURAS/OUTUBRO DE 1996

    O mais novo nacional surge com o propósito de agradar àqueles que desejam um off- road para o esporte e lazer. As areias brancas das dunas e praias do Ceará, e as duras provas indoor e raids que proliferam nos calendários dos clubes espalhados por toda a região nordeste do nosso país serviam de inspiração para o desenvolvimento do mais novo modelo 4x4 nacional. 

O Troler, produto de uma tradicional ex-fabricante de buggies do Ceará, é um veículo simples, tão simples é óbvio que, à primeira vista, induz a uma idéia de fragilidade e engenharia de fundo de quintal. A carroceria, nitidamente inspirada em um jeep Wrangler, é feita em uma única peça em fibra de vidro, despojada de qualquer tipo de agregado inútil, mesmo que decorativo. 

A grade dianteira tem um aspecto um pouco pesado graças às grossas barras horizontais e verticais, e o capô é longo, sugerindo a presença de um motorzão 6 cilindros, características comum em modelos americanos. Os sobrepára-lamas são integrados na carroceria e não existe porta traseira para caçamba. Faróis e lanternas quadrados na dianteira e traseira, pára-brisa e vidros laterais planos, portas com dobradiças externas e semi-colunas tipo “targa” completam a carroceria. Um grosso Santantônio, com 4 pontos de apoio, garante a integridade física dos ocupantes em caso de capotamento. Serve também como armação da capota, dividida em duas partes, de fácil montagem e desmontagem. “Mais de dez anos de praia”. 
Finalizando a vista externa, o Troler tem estepe traseiro externo fixo, suportado por uma armação tubular bastante discreta. O veículo chama a atenção pela bitola mais larga que os nossos velhos jipes e por uma aparência geral bastante simpática. Abrindo o capô, uma surpresa. O motor aparece encolhido, quase que se escondendo de você junto à parede de fogo. O chassis aparece fundido à carroceria, cujo desenho é exclusivo do Troler, 
composto de longarinas e travessas tubulares externas e barras longitudinais maciças redondas para a fixação. Suspensão por molas helicoidais e braços longitudinais com eixos rígidos na dianteira/traseira, picotados no centro por braços oscilantes, demonstram modernidade, já que somente os mais atuais 4x4 fabricados no mundo utilizam este sistema. Os freios são a disco para as quatro rodas. Será que anda, o bichinho? Parar, certamente pára.
 
Internamente o Troler lembra mesmo um Buggye. O painel é liso, também em fibra, com diversos instrumentos. Os dois relógios maiores são o contagiro e o velocímetro, este com odômetro totalizador. No centro deste conjunto um mostrador circular abriga luzes espia para sinalizador, farol alto, 4x4 engatado, queda de pressão de óleo e bateria. 
Mais a direita outros mostradores indicam o nível de combustível, temperatura do motor e amperímetro. O revestimento interno é de material plástico, assim como a forração dos bancos e do Santantônio. Os comandos da coluna de direção, farol alto e baixo, pisca alerta e acionador dos limpadores de pára-brisa com temporizador são os do Gol. Lanternas e faróis e luzes do painel são acionadas por um único botão giratório no painel. 
Ao lado da alavanca de câmbio, uma segunda e única alavanca aciona o sistema 4x4 e a caixa reduzida. A pedaleira é comum, bem posicionada. Completam os comandos, o freio de mão, no centro do assoalho. O acesso ao interior do Troler é também semelhante ao dos Buggyes, somente dificultado por sua maior altura do solo.
 
A base da porta é ainda mais alta, fazendo com que, obrigatoriamente, você esbarre na parte da carroceria, ao sair. Se o carro estiver sujo, você deverá sujar sua calça. Senhoras e senhores de idade mais avançada sofrerão um pouco até se encaixarem nos bancos do Troler. Como o veículo não se propõe a esse perfil social, estes dados não chegam a comprometer. Nascido das areias e das provas off-road, “Born to be Wild”, nada condiz com exigências geriátricas ou de alta etiqueta almofadinha. Os bancos, no entanto, arrebentam as costas de qualquer cristão. Antes que a porta do motorista se feche, é importante observar as indicações de engate do 4x4 e reduzida que estão em adesivo, na sua coluna. Fechada, a porta encobre estas indicações e você poderá achar que elas não existem. 
Dada a partida, o motor soa macio. Apesar da aparência, são 112cv à sua disposição, nada mal para um motorzinho que parecia tão pequeno. Acelerando até o fundo ele chega rápido aos 5.000 rpm e surge uma grande ressonância, comum em veículos com carroceria em fibra de vidro. Essa ressonância aparece sempre que o motor gira mais alto, em troca de marchas e em maiores velocidades. A embreagem é suave, assim como o engate da primeira marcha. O conjunto motor/embreagem é o mesmo do Santana Volkswagen, motor AP com 2000cm3. 
A performance desse motor é surpreendente em um veículo 4x4, promovendo a presença de torque, mesmo em rotações mais baixas, fato fundamental para uma boa movimentação em terrenos acidentados. O seu sistema de alimentação é aspirado e carburado naturalmente. O carburador é de duplo estágio, o que propicia também excelente rendimento em rotações mais altas. Isso quer dizer que, qualquer que seja o regime solicitado, potência e torque estão sempre disponíveis. Isso aliado a um pequeno peso, já que o Troler possui apenas 1250kg, e à caixa de redução fazem com que você se esqueça de estar acelerando um Volkswagen.

O câmbio e a caixa de transferência são os mesmos da F-1000 4x4, câmbio para serviços pesados e engate do 4x4, com o veículo em movimento sem qualquer tipo de problema. Como o usuário de veículos 4x4 normalmente utiliza diversas de pneus, o Troler oferece duas relações de diferenciais, 3.25:1 e 4.10:1. Nosso veículo estava equipado com pneus Michelin medidas 255x75xR15, com rodas 15x8 e relação 3.53:1, que achamos demasiadamente longa. O fabricante nos explicou que, desta forma, pode-se obter velocidades maiores em reduzida 4x4, já que este veículo estava preparado para a utilização nas dunas de areia. Em 
outras condições talvez a relação mais curta seja melhor adequada. Em nosso teste, rodamos no trânsito de São Paulo, em rodovias e estradas asfaltadas secundárias, em estradões de terra batida e pequenas trilhas. O Troler mostrou-se bastante estável em cursos em 4x2 e melhor ainda na terra, em 4x4. O nível interno de ruído é alto, como poderia se esperar de um veículo em fibra de vidro e capota de lona, mas menor do que esperávamos. 
O pequeno tamanho do motor e seu posicionamento, atrás do eixo dianteiro, asseguram uma boa distribuição de peso com ligeira tendência ao travamento das rodas dianteiras nas ferragens. Há poucos ruídos vindos da suspensão e da capota, ruídos estes comuns nos jipes, mesmo após rodando em estradas de terra. Engatada a reduzida, o Troler movimenta-se mesmo em uma rampa íngreme, sem qualquer necessidade de se utilizar o acelerador, em rotação de marcha-lenta. 

A direção é servo-assistida e promove firmeza e segurança nos movimentos. O veículo é ágil e parece robusto, apesar da primeira impressão não é desconfortável, más eventualmente poderia ser mais macia, principalmente na traseira. Mesmo assim o veículo não possui movimentos bruscos de trepidação nos eixos, que geralmente causam insegurança em veículos 4x4 quando submetidos à velocidade, em estradas de terra. De maneira geral o Troler, veículo novo, tem menos problemas do que qualidades. Se por um lado os instrumentos do painel são absolutamente imprecisos, por outro não há como duvidar da qualidade e confiabilidade de seu conjunto mecânico, e da disponibilidade de peças e assistência técnica, imprescindíveis para o sucesso de um 4x4. 

Sua simplicidade de construção e manutenção são mais aspectos positivos para aqueles que desejam um veículo despojado, para a praia ou campo. O seu preço inicial é que, como nascido próximo ao mar, não poderia ser diferente, ou seja, um pouco salgado: R$ 19.9000,00. 

  TROLER 4X4 – FICHA TÉCNICA 
Motor: Volkswagen AP-2000, 4 cilindros, gasolina, dianteiro, longitudinal. Alimentação: Naturalmente aspirado. Carburador com duplo estágio. Cilindrada: 1996cm3 Potência: 112cv a 5.400 rpm Torque: 17.5 mkgf a 2.600 rpm Tração: Traseira com opção para 4x4, engate por alavanca no assoalho. Eixos: Dana importado, do tipo rígido com diferencial Dana 44. Relação de diferenciais: 3.53:1 ou 4.10:1 Câmbio: 5 velocidades, Eaton CL2625B. Relação de marchas: 1a. 5.82:1 / 2a. 3.32:1 / 3a. 2.13:1 / 4a. 1.40:1 / 5a. 1.00:1 / Ré: 5.54:1 Caixa de transferências: Borg Warner – 2 velocidades Normal: 1:00:1 Reduzida: 2:69:1 Suspensão: Dianteira e traseira com eixos rígidos, molas helicoidais, braços oscilantes longitudinais, pivotamento central nos eixos e amortecedores telescópicos hidráulicos. Freios: A disco nas 4 rodas, sistema assistido. Direção: Hidráulica, com esferas recirculantes. Ângulo de ataque: 52° Ângulo de saída com engate: 35° sem engate: 45° Ângulo de inclinação lateral: 45° Travessia: 800mm Altura mínima: 230mm Altura máxima: 1.800mm Entre eixos: 2.380mm Largura máxima: 1.780mm Comprimento: 3.750mm 
Rodas: 15x8 Pneus: 255x75xR15