Amyr Klink agora navega na areia O navegado Amyr Klink posa a frente de um Troller, jipe feito no Ceará, que ele usará na sua estréia no Rali Dacar, marcado para o início do ano que vem. Velejador troca mar pelo deserto e prepara sua estréia no rali Dacar, mais importante prova do gênero, com um jipe “made in Ceará”.
Amyr Klink não gosta do rótulo de aventureiro. Acha injusto. Afinal, argumenta, suas viagens são planejadas com cuidado e rigor, para evitar, justamente, que se transformem em aventuras. O melhor, talvez, seja chamá-lo de navegador. Porque foi navegando que ganhou notoriedade.
Sempre solidário cruzou o Atlântico num barco a remo, invernou na Antártida e contornou, depois, o mesmo continente. No início do próximo ano, porém, o paulistano Klink, 44, muda de ramo. Radicalmente.
Dá um descanso para seu veículo, o Paratii. Deixa de viajar sozinho. E troca o gélido Pólo pelo forte calor do norte africano. Pela primeira vez, ele participará do Rali Dacar, mais prestigiosa prova do tipo no planeta.
Neste ano batizada de Paris-Cairo, terá largada simbólica na França e cortará a África, de oeste a leste, do Senegal ao Egito.
Nem longe do mar Klink perderá a denominação. Usando a experiência em orientação, será navegador do piloto Cacá Clauset, ex-campeão brasileiro de rali. Durante 17 dias, a dupla cruzará áreas de vegetação rasteira, clima árido. E passará por desertos. Tudo isso a bordo de um jipe cearense, criado he três anos e meio, cujo maior feito até hoje foi ter conseguindo dois segundos lugares no ultimo Rali dos Sertões. “Nosso projeto é chegar até o fim da prova”, disse Klink. A dupla integra a equipe Troller-Dakar, idealizada por Clauset e Mário Araripe, donos da fábrica de jipes Troller, de Fortaleza. E é da experiência nas dunas do nordeste que o time espera conseguir vantagem no rali.
“O carrinho é bem bolado e tem um know-how para rodas na areia que mais ninguém tem”, disse Klink. “O dia-a-dia dele é passear nas dunas do Ceará.” O navegador acredita que a maior diferença que sentirá no rali será na velocidade dos cálculos.
“Vou ter que ser mais rápido no raciocínio. No mar, todas as dificuldades que vão aparecendo são naturais. E, em um rali, é a organização que vai criando os obstáculos para dificultar a prova”.
No Rali Dakar, todas as planilhas de orientação e mapas serão fornecidas pela organização. Cabe ao navegador orientar o piloto a colocar o carro no rumo certo.
“O que conta muito também é o conhecimento da mecânica do carro. Na minha opinião, essa tem que ser a maior habilidade do navegador”, declarou Klink.
Além de Clauset-Klik, outras três duplas integram a equipe Troller-Dakar. A mais forte delas é formada por Reinaldo Varela e Alberto Fadigatti, que também têm no currículo títulos nacionais e internacionais de rali.
Completam o time das duplas Roberto Macedo e Marcos Ermírio de Morais e Arnoldo Júnior e Galdino Gabriel, que já venceram competições regionais. “Acho que um dos nossos chega entre os dez primeiros na categoria Geral”, afirma Clauset.
Por suas características, o Troller estará participando, simultaneamente, de quatro categorias: Geral, T3 (protótipos com menos de mil unidades fabricadas por ano), T3 a gasolina e Novatos.
Para adaptar o jipe cearense às exigências do rali, a equipe vem procurando saídas “alternativas”.
Uma delas vem sendo recorrer a oficinas de fundo de quintal, na periferia de São Paulo. Foi numa dessas investidas que o time conseguiu improvisar uma espécie de rodo-ar, um equipamento que infla e murcha os pneus com o carro em movimento, economizando tempo e melhorando a dirigibilidade na areia. “Num posto de gasolina da (rodovia) Anhanguera me indicaram uma oficina que fazia um tipo de rodo-ar. Acabamos numa boca-de-porco, em Pirituba, que instalava um negócio parecido em minivans”, disse
Fadigatti.
A equipe também teve, por exemplo, que importar tanques de combustíveis maiores, de 380 litros, quase cinco vezes a capacidade do item original de fábrica.
O próximo passo será iniciar os treinos, no mês que vem, em dunas do Maranhão. “Estamos estruturados para enfrentar os problemas do deserto. Não temos todo aquele ufanismo, más é legal estar defendendo o Brasil com um carro brasileiro”, diz Clauset.
Ainda envolvido no livro em que contará a circunavegação da Antártica, Klik já está de olho em outro projeto, programado para depois do Rali Dacar. Em março, participará da Regata do Descobrimento, com largada em Lisboa e chegada ao Rio. Tanto para uma como para outra viagem, levará a mesma receita: “É preciso sempre ter bom senso para saber a hora de parar, para saber até onde continuar. Esse juízo é muito importante”.
Dentro da lógica do navegador, sem juízo qualquer viagem pode acabar se transformando. Numa aventura.
Brasil terá mais 6 inscritos
Além da equipe Troller-Dacar, outros 6 brasileiros estarão embarcando para participar do rali. Será a maior participação do país desde que estreou na prova, então Rali-Paris-Dacar em 1988.
Pioneiros na competição, Klever Kolberg e André Azevedo passarão o início do ano no deserto pela 13a vez consecutiva. Kolberg correrá na categoria Carros, com um Mitsubishi Pajero V6, tendo o francês Pascal Laroque como seu navegador.
Azevedo repetirá a experiência deste ano e, ao lado do tcheco Tomas Tomecek, competirá com um caminhão Tatra.
Joaquim Gouveia Rodrigues, o Juca Bala, um dos maiores vencedores de enduros no país, completa a equipe BR Lubrax. Correrá com uma moto austríaca KTM.
No ano passado, uma vaca abreviou sua participação no rali. Ao tentar ultrapassar um carro, Rodrigo acabou chocando-se com o animal. Com um corte profundo no joelho esquerdo e a moto danificada, o piloto precisou ser resgatado em pleno deserto. “O André está dando um apoio logístico legal para a gente. Vem colaborando”, disse cacá Clauset.
Com estruturas mais modestas, mas também com um Mitsubishi Pajero, Arilo Alencar e Alexandre Thomas também fizeram suas inscrições no Rali Dacar. A participação brasileira se completa com o piloto Maurício Fernandes, que disputará no ano que vem pela terceira vez a categoria Motos.
O Troller T5
· Comprimento: 3,98m
· Largura: 1,85m
· Altura: 1,82m
· Peso: 1.650kg
· Tanque de combustível: 380l
· Motor Ford V6, 4l, a gasolina, com potência de 200 cavalos.
· Câmbio mecânico de 5 velocidades, mais ré tração 4×4 integral.