Montadora cearense completa um ano
A única Montadora brasileira de automóveis, a cearense Troller, completa um ano de funcionamento registrando um crescimento na produção e no número de vendas. Em fevereiro de 2000 a fábrica lança um novo modelo.
A Troller única montadora nacional de veículos, desenvolvida e instalada no Ceará – está comemorando os resultados alcançados em um ano de funcionamento. Instalada em outubro do ano passado, a montadora atualmente fabrica em sua unidade industrial, em Horizonte, três carros por dia, faturando, em média, por mês, cerca de R$ 2 milhões. O presidente da empresa, Mário Araripe, diz que a meta é atingir a produção, em abril do ano de 2000, de seis veículos em cada turno (ou seja, 18 unidades diárias), sendo que a capacidade instalada da fábrica é de um carro montado a cada uma hora e meia.
Para isso, Araripe está apostando no lançamento no mercado do mais novo modelo da Troller, o T5, em fevereiro do próximo ano. Mais longo e potente que o atual e único modelo, o T4, o veículo ainda está em fase de teste e já há protótipos com 40mil quilômetros rodados. “No entanto, a prova de fogo do T5 será a participação no rali Paris-Dakar, em janeiro próximo, quando quatro Troller irão competir”, ressalta. Os investigamentos no novo produto, segundo ele, somam a quantia de R$ 1,2 milhão.
A montadora tem pontos de distribuição em quase todo o país e já realizou transações comerciais com a Costa Rica e Argentina. Atualmente, são vendidos em seus principais mercados – Fortaleza e São Paulo – aproximadamente 30 carros a cada mês. “Quando começamos, vendíamos, mensalmente, apenas sete veículos nessas praças”, conta Araripe. A meta, com o lançamento do T5, é atingir a venda mensal de 50 veículos. A Troller tem ainda pontos de distribuição em Natal (RN), Teresina e Paraíba (PI), e mais recentemente, Porto Alegre (RS). “Belo Horizonte (MG) e Campo Grande (MS) serão nossas próximas praças, mas, lentamente, abriremos postos em praticamente todo o Brasil”, afirma.
Com o mercado externo, as relações estão avançando, mas ainda são muito incipientes. Um distribuidor argentino importou um veículo para testes e já fechou a compra de mais 54 unidades. A Costa Rica levou três Troller para fazer um estudo de mercado, e ao contrário dos argentinos, está querendo, para fugir dos altos impostos de importação, montar os veículos in loco. “Os costarriquenhos já nos visitaram algumas vezes e a intenção é formar uma joint venture para implementar a produção naquele País”, explica o presidente da empresa. Ele ressalta que ainda não há nada decidido quanto a isso.
A Troller possui apenas um concessionária própria, em São Paulo, onde os carros são vendidos à vista. O básico custa R$ 29,9 mil e com acessórios opcionais sobre para R$ 33,9 mil. Araripe informa que, a partir de dezembro até o início do rali Paris-Dakar em janeiro, os consumidores poderão comprar um Troller, dando 50% de entrada ou um carro usado e pagando o restante em 12 prestações com juros de 0,5% ao mês. Segundo ele, a alta do dólar, no início do ano, encareceu “um pouco” o produto que custava R$ 27,9 mil e R$ 32 mil, respectivamente (altas de 7,1% e 5,9%), mas isso não prejudicou as vendas. O veículo tem 80% de suas peças nacionais e o restante importadas, portanto não foi muito afetado pela desvalorização do real.
Jipes estarão no Paris-Dakar
A Troller é a primeira marca de carro brasileiro que participará de uma edição do rali Paris-Dakar. A presença do Brasil na competição que, segundo Mário Araripe. “é a maior aventura do homem na terra”, faz parte do calendário oficial das comemorações dos 500 anos do descobrimento do Brasil e está sendo chamada de “Brasil 500 anos – no Dakar do Milênio.” O presidente da Troller faz questão de ressaltar que são mínimas as possibilidades de uma das quatro equipes
brasileiras chegarem em uma boa posição na prova: “talvez nem completem o percurso.” De acordo com ele, para vencer uma competição como o Paris-Dakar a experiência é fundamental. “É como um piloto iniciante na Fórmula 1 ser campeão no primeiro ano. Só 2% dos novatos chegam no final do rali”, compara. A equipe está sendo coordenada pelo bicampeão mundial de Fórmula 1, Nelson Piquet e conta com três competidores cearenses: Roberto Macedo, Arnoldo Júnior e Gabriel Galdino. Ao todo, US$ 2 milhões serão gastos pelos brasileiros durante a prova, que estão sendo patrocinados pela Hollywood, Varig Cargo e pneus B.F. Goodrich da Michellin. O rali de 2000 terá algumas características diferentes dos anteriores e mais arriscadas. Segundo Araripe, o percurso será maior – 11 mil quilômetros, 6 mil só no deserto -, os competidores atravessarão o deserto do Saara de ponta a ponta, e, pela primeira vez, o apoio não aparecerá na trilha durante quatro dias. “O número de participantes também deve duplicar e chegar a 350 pessoas”, completa.
JORNAL GAZETA MERCANTIL CEARÁ/12 DE JANEIRO DE 1999
Há cinco anos o engenheiro Rogério Farias, então funcionário da Fyber, desenvolveu seu primeiro projeto individual: um jipe 4×4 em fibra de vidro. Durante dois anos, fez 42 protótipos do carro, equipado com motor Volkswagen. O empresário Mário Araripe, ao tomar conhecimento do projeto, ficou entusiasmado e decidiu tornar-se sócio de Farias. Fez pesquisas de marcado e conversou com executivos da Engesa, Gurgel, JPX e CBT. Em março de 1997, ele consolidou a parceria Rogério Farias, a fabricação de protótipos foi interrompida e os dois sócios partiram para a implementação da linha de montagem. Entre 1997 e 1998, forma investidos cerca de R$ 8 milhões e em novembro do ano passado a Troller começou a produzir os jipes 4×4.
“Houve uma coincidência na época em que estávamos implementando a fábrica. O governo estava incentivando empresas automobilísticas a se instalarem no Nordeste. Eles pensavam em atrair grandes montadoras, oferecendo incentivos. Foi aí que conseguimos os incentivos, que estão minimizando as desvantagens de escala que temos em relação a outras empresas”, conta Mário Araripe, que também atua no setor de entretenimento em Fortaleza.
Até dezembro do ano passado, estavam sendo produzidas duas unidades por dia. A partir deste mês, são três e o projeto é chegar em setembro operando na capacidade total da fábrica, produzindo 10 jipes/dia. Até hoje, de acordo com Araripe, foram comercializadas 100 unidades. O jipe básico custa R$ 24,98 mil e o completo, com ar condicionado, roda de liga leve e farol de milha, entre os outros acessórios, sai por R$ 27,79 mil.
Por enquanto, o jipe “made in Ceará” está sendo vendido em quatro cidades. Fortaleza, Natal, Parnaíba (no Piauí) e São Paulo foram os primeiros mercados escolhidos. “Parnaíba tem um Jeep Club forte, por isso a demanda é significativa. E São Paulo é inevitável”, justifica Araripe. Segundo ele, Salvador contará com uma revenda Troller em abril. Recife, São Luiz e Curitiba ainda estão em análise. Na capital paranaense, há 17 interessados em comprar um jipe Troller. Até da Argentina há propostas. Esta semana o empresário recebeu um fax de uma empresa de Buenos Aires que se comprometeu a comprar 57 carros por semestre.
Mesmo com o interesse que está despertando, a Troller segue numa marcha lenta, para não atropelar os negócios. Araripe acredita que ainda há o que ser investido e não estimou ainda o tempo de retorno do investimento. Além disso, a expansão das vendas neste momento o preocupa por causa da assistência técnica. No entanto, o fato de o veículo ter sido projetado para receber motor VW tranqüiliza o empresário, pois os proprietários podem contar com a rede de concessionárias, no caso de algum problema sério. “As peças que não podem ser repostas tão facilmente têm um vida útil maior”, garante o empresário.
Exposição Desde o dia de dezembro há um show-room da Troller no aeroporto e os resultados, de acordo com Mário Araripe, têm sido positivos. Vocalistas de duas bandas baianas compraram jipes na semana passada, depois que visitaram o estande. De acordo com Haroldo Scipião, um dos 100 proprietários dos veículos, o desempenho do carro não deve a outras marcas importadas de automóveis fora de estrada. O “jipeiro” tem participado de ralis e diz que não pretende mudar para outra marca. “Alem do desempenho satisfatório, os gastos com manutenção são menores”, afirma.