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   Teste No Saara Jipão projetado no Ceará concorre com importados e vai competir no deserto. 
Quando for dada a largada para a próxima edição do rali Paris-Dacar-Cairo, em janeiro haverá uma novidade brasileira no Deserto do Saara. Pela primeira vez, um carro nacional vai disputar a prova mais importante do rali mundial. Durante mais de duas semanas, quatro jipes cearenses, da marca Troller, percorrerão 10.000 quilômetros de dunas competindo com máquinas consagradas como Mitsubishi e Toyota. A participação de um carro brasileiro numa prova dessa envergadura é surpreendente. A Troller é a única montadora nacional com a produção regular. Fora ela, há apenas fabriquetas de buggy em Estados do Nordeste. 
Na década de 80, havia mais de vinte empresas nacionais produzindo carros. Era o tempo em que pilotar um Miura ou um Puma garantia status. Com a liberação das importações, a partir de 1990, os carros esportivos estrangeiros tomaram o mercado e as fábricas artesanais foram fechadas uma a uma. A história da fábrica cearense é muito diferente da de suas precursoras. Foi fundada num mercado aberto para disputar espaço com os carrões importados. Boa parte de suas peças vem de fora do país. A caixa de câmbio é a mesma que equipa o Ford Mustang. Os eixos são utilizados também pela Cherokee. O motor Volkswagen do Santana foi escolhido pela sua resistência e facilidade de manutenção. Como se vê, chamá-lo de brasileiro da gema é apenas uma liberdade poética. A definição correta: o jipe da Troller, mesmo com peças importadas, não é produto de nenhuma das multinacionais em atividade no Brasil. Até agora, a empresa já vendeu quase 500 unidades. Em sua sede, no município de Horizonte, a 40 quilômetros de Fortaleza, 242 funcionários fabricam setenta unidades por mês. Por enquanto, o único modelo é o T-4, um jipe robusto, com tração nas quatro rodas e direção hidráulica que custa cerca de 30.000 reais e é capaz de escalar dunas de areia como quem sobe uma rampa de garagem. Em janeiro, chegará ao mercado o 
T-5. Maior e mais confortável para concorrer com os modelos sofisticados que tiveram seus preços disparados por causa da alta do dólar. O modelo que vai competir no Deserto d Saara é um T-5 incrementado. 
A Troller surgiu da paixão por jipes de Rogério Farias, um administrador de empresas que ganhava a vida fabricando buggy. Seu objetivo era construir um carro forte o suficiente para vencer as dunas das praias cearenses. Entre 1994 e 1996, ele queimou 1 milhão de reais para projetar e construir seu jipe. Fabricou cinqüenta unidades na marra, com apenas quinze funcionários. “Eu era o projetista,o soldador, o pintor, o vendedor e o torneiro mecânico”, lembra Farias. O esforço valeu a pena. Em 1997, os protótipos chamaram a atenção do empresário Mário Araripe, dono de indústrias têxteis no Ceará. Araripe colocou mais de 9 milhões de reais no negócio, contratou uma equipe de engenheiros para aprimorar o projeto e implementou a linha de produção. Espera recuperar o investimento em menos de três anos. “Nosso jipe é cabra macho. É forte não quebra e encara qualquer obstáculo”, diz Araripe. A prova de fogo está marcada para o Deserto do Saara.